Neste segundo artigo iremos abordar o fluxo digital na reabilitação oral. Com o evoluir da tecnologia em Medicina Dentária, podemos hoje em dia usar as máquinas e os sistemas para o diagnóstico, como abordámos no primeiro artigo. Após o diagnóstico e planeamento, o fluxo digital permite que a nossa reabilitação oral seja mais previsível, mais fácil na produção e otimização do tempo dos trabalhos realizados, mas também com um maior conforto e participação direta pelo paciente nos trabalhos, para uma maior aprovação do mesmo. Essas vantagens permitem ter um trabalho mais rigoroso, de acordo com as expectativas do paciente.

A utilização do escáner intraoral, permitiu melhorar a experiência do paciente, pelo não uso de materiais de impressão clássicos, com possibilidade de visualizar no momento do escanea mento, possíveis erros, que podem ser apagados, e voltados a escanear, através do scanner intraoral, para um resultado mais positivo. A impressão 3D permitiu também a obtenção de mo- delos físicos mais rápidos e com uma grande definição, que permitem na clínica dentária ter acesso a todo o tipo de mode- los os guias para a reabilitação oral digital.

A execução digital é mais previsível, pela visualização de um possível resultado final pelo planeamento prévio da prótese dentária, sendo o investimento inicial elevado, mas com redução de custos a longo prazo.

Iremos dar um especial relevo à execução da reabilitação prótetica e as suas etapas, com a impressão digital, e os sistemas de desenho e maquinação assistidas por computador e CAD--CAM.

Fig. 1 Fotos iniciais de uma reabilitação digital de três facetas e uma coroa cerâmica.
Fig. 2 Aspeto do escaneamento intraoral e modelos para impressão 3D
Fig. 3 Confeção da reabilitação anterior cerâmica.
Fig. 4 Aspeto final dos dentes 12, 11, 21, 22.

Uma das aplicações mais simples e básicas é a reabilitação sobre dentes naturais, desde inlays, onlays, coroas, facetas cerâmicas, etc. Por vezes, nos tratamentos analógicos o erro cumulativo para o resultado final era grande, desde a preparação dentária que não podia ser confirmada na impressão, mas apenas no modelo final, até à impressão que podia ter distorções, até um resultado final diferente do expectável pelo paciente. Hoje em dia, conseguimos, diretamente na preparação dentária, ver o resultado dos nossos preparos no scanner intraoral, ver erros de direção, ver falta de espaço protético, fazer um mapeamento de cor ou mesmo ver a oclusão dinâmica, com o paciente na cadeira, o que, no passado, só era observado após o trabalho já estar no laboratório dentário. Neste caso clínico apresentamos um caso de três facetas cerâmicas e uma coroa cerâmica, feito por um fluxo digital, onde o escaneamento e impressão digital tornaram o trabalho mais previsível, sem provas associadas.

Fig. 5 Escaneamento intraoral de um implante imediato num molar.
Fig. 6 Pilar personalizado em titânio e PMMA para o implante imediato.
Fig. 7 Visualização da manutenção gengival ao final de três meses.

Na reabilitação digital implantossuportada, muitos foram os avanços na área da implantologia. Um dos primeiros passos após a colocação do implante seria a confeção de um dente provisório ou, em alguns casos, a colocação de um pilar de cicatrização. Com o fluxo digital, conseguimos imediatamente durante a cirurgia, confecionar um pilar de cicatrização, personalizado, adaptado ao alvéolo do dente que acabamos de extrair, que permite manter, de forma mais estável, a arquitetura gengival do dente, com materiais com um comportamento mais biológico como o que apresentamos nestes caso, com um pilar de titânio e PMMA, que permitiu nos três meses de cicatrização da gengiva, a manutenção da forma do dente molar extraído.

Fig. 8 Aspeto inicial da reabilitação mista sobre dentes e implantes.
Fig. 9 Escaneamento intraoral durante o ato cirúrgico.
Fig. 10 Software de planificação e design 3Shape.
Fig. 11 Modelo impresso e restaurações cerâmicas sobre dentes e implantes.
Fig. 12 Aspeto final em boca da reabilitação com facetas e coroas cerâmicas sobre dentes e implantes.

A interdisciplinariedade na reabilitação oral e a utilização de diferentes materiais, sempre tornou os casos mistos complexos (reabilitação sobre dentes naturais e implantes dentários), Hoje em dia, estes casos tornaram-se mais simples, já que podem ser copiados antes da cirurgia, incorporar o mock-up para a reabilitação provisória, assim como para a reabilitação final.

Neste caso clínico, a paciente perdeu uma ponte anterior, e no dia da cirurgia foram colocados implantes, coroas e facetas de forma provisória, num fluxo digital, sendo o mesmo copiado para a reabilitação final em cerâmica. Os softwares de design 3D (neste caso, 3Shape), permitem juntar todas as imagens, como situação inicial, design 3D, posição dos implantes e posição dos preparos dentários de forma previsível, para a obtenção de um resultado final ideal.

Fig. 13 Aspeto inicial de uma reabilitação total sobre implantes no maxilar superior em carga imediata.
Fig. 14 Manutenção de quatro dentes durante a cirurgia, para escaneamento intraoral, que permite a confeção de uma carga imediata total.
Fig. 15 Visão dos scanbodys em boca durante o ato cirúrgico.
Fig. 16 Carga imediata total digital superior em PMMA.
Fig. 17 Resultado inicial vs final da reabilitação em carga imediata superior digital total sobre implantes.

Nas reabilitações totais sobre implantes, a grande dificuldade sempre foi a confeção de uma carga imediata digital. Neste caso, uma das estratégias usadas foi a manutenção de quatro dentes durante a cirurgia total de implantes, para poder juntar as imagens no software de design da carga imediata (imagem inicial, design 3D, posição implantar e futura carga imediata), permitindo no dia do ato cirúrgico a confeção de uma prótese total fixa totalmente digital, com a posição idealizada no design do Smilecloud (que abordámos no primeiro artigo), mais a posição dentária e de oclusão estipulada antes da cirurgia, mais a posição final dos implantes dentários colocados. No final da cirurgia, conseguimos colocar uma prótese total fixa em PMMA fresada em CAD-CAM sobre seis implantes dentários.

Fig. 18 Aspeto inicial de uma reabilitação bimaxilar em zircónia.
Fig. 19 Confeção de jig para passividade dos implantes, através do ficheiro original do ato cirúrgico.
Fig. 20 Escaneamento intraoral dos tecidos moles após osteointegração dos implantes.
Fig. 21 Aspeto final da reabilitação bimaxilar em zircónia com fluxo totalmente digital.

O processo de criação de próteses fixas totais em cerâmica sobre implantes, eleva o digital ao patamar mais complexo. A dificuldade da criação de estruturas passivas, devido à dificuldade de escaneamento total de arcos desdentados, onde o erro torna-se cumulativo. Este é talvez o calcanhar de Aquiles do scaneamento intraoral. Uma das estratégias, é guardar os ficheiros iniciais da carga imediata, para poder sobrepor na reabilitação definitiva, havendo apenas a necessidade de scanear a modificação gengival que aconteceu durante o periodo de osteointegração dos implantes. No caso apresentado de reabilitação bimaxilar definitiva em zircónia, foram guardados os ficheiros dos scanbodys utilizados na carga imediata, para a construção de uma passividade. Após a passividade aprovada, foram efetuados escaneamentos ao tecido gengival, para a confeção da reabilitação bimaxilar final em zircónia.